terça-feira, 6 de maio de 2014

ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA: TEXTO ESCRITO POR Pe. JOSÉ ULYSSES DA SILVA, C.Ss.R

ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA
PE. JOSÉ ULYSSES DA SILVA. CSSR.  

O QUE SIGNIFICA SER REDENTORISTA?

         Qual é a essência do ser redentorista? A missionariedade. Isto significa que a definição de nossa espiritualidade não nos vem da ordenação, nem da vida religiosa em sua con- cepção genérica. Nossa identidade depende da missionariedade. Em nossa vocação, o ser missionário condiciona e define a vida religiosa e o sacramento do ordem. A vida e a obra de Santo Afonso, particularmente a fundação de uma nova congregação, desenvol- veu-se a partir de sua prática missionária: “A Missão é o elemento catalisador da vida do grupo em suas várias manifestações: das estruturas da comunidade à atividade cultural”.1
Em que consiste a missionariedade redentorista? Dois pólos irão constituir e caracterizar a missionariedade afonsiana: Jesus Cristo, como o Santíssimo Redentor e os Pobres a- bandonados, como os redimidos. São duas realidades bem concretas e condicionantes da vida de Afonso e da vida de todos seus seguidores imediatos. Ao redor deste binômio, ele vai articular todo o seu ideal e projeto de vida, porque esses dois pólos farão conver- gir toda a potencialidade de seu amor afetivo e efetivo. O amor a Jesus Cristo e o amor aos pobres e aos pecadores se transformarão em um só amor na vida de Afonso: “Sejam meus imitadores, assim como eu o sou de Cristo" (1Cor 11, 1). Este é o 'intento' funda- mental proposto por Afonso. Nosso estilo de vida de fé, de vivência cristã e de ação pas- toral são definidos e identificados a partir dessa herança histórica, retomadas com muita força por nossas Constituições atuais. 

1 Raponi Sante, A Espiritualidade Redentorista das Origens, em Cadernos Redentoristas-13, CERESP, Ed. Santuário, Aparecida 1999, p. 34
         Podemos afirmar que não há originalmente em Afonso o sonho de fundar um novo institu- to religioso. Toda a sua preocupação era dar uma resposta missionária aos destinatários mais abandonados que encontrou em Scala. A consagração religiosa, o sacramento da ordem, toda a organização posterior vão surgindo como conseqüências necessárias para realizar o seu ‘intento’ ou então são impostas pela estrutura eclesiástica.  
Mais do que nunca, a missionariedade tornou-se uma urgência para toda a Igreja. Quan- do escutei pela primeira vez o tema proposto para a V Conferência do Celam, senti que era algo muito identificado conosco. “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham Vida: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6) é um tema que toca diretamente nossa vida e nosso agir pastoral. Ser Missionário é algo que parece pertencer a nós, redentoristas, mais do que a outros consagrados. E o ser Discí- pulo, ainda que seja um desafio para nossas vidas, é também uma proposta muito clara de nossas Constituições, quando nos pedem para continuar o exemplo de nosso Reden- tor. Missão e Missionário são os termos que perpassam todo o Documento de Aparecida, ecoando como uma nova convocação de todos os católicos.
         A Comissão de reestruturação, desde o início de seus trabalhos e desde o primeiro do- cumento enviado à Congregação, denominado “Trabalho em andamento”, não teve dúvida- da em colocar como primeiro princípio norteador para uma autêntica reestruturação a a- firmação: “a reestruturação é em vista da missão”. Uma reestruturação que parece atingir apenas estruturas organizativas externas, mas que penetra profundamente em nosso ser e agir redentoristas, porque atinge a essência da nossa vida: ser ou não ser missionários, viver ou não como missionários.
Nós existimos para ser Missionários para os pobres. É esta a essência das nossas vidas como redentoristas. Por causa dessa finalidade, nós nos reunimos em comunidade apos- tólica, nós nos consagramos ao Senhor pelos 4 votos, recebemos uma formação ade- quada, organizamos nossas formas de governo e nós acolhemos o chamado para ser ministros ordenados ou não ordenados na Igreja.
A convocação atual para uma reestruturação da nossa Congregação é um chamado para uma profunda renovação do nosso ser Missionário. Não se trata apenas de uma questão administrativa. Muito mais do que isto, queremos haja um novo esforço para seguirmos mais fielmente nossas Constituições e para estarmos mais atentos aos sinais dos nossos tempos.
           Para reestruturar nossas vidas como Missionários, será fundamental retomar com um empenho muito mais profundo e até radical à nossa espiritualidade, como base da nossa disponibilidade missionária. Pobreza, castidade, obediência e perseverança são dons do Espírito que nos capacitam para sermos livres e abertos, dispostos, desejosos e felizes no serviço aos pobres, onde quer que necessitem a nossa presença e ação. Se não le- vamos a sério a prática dos votos, será impossível levar adiante o carisma missionário de nossa Congregação e não haverá chance alguma de reestruturação.

Eis o chamado que concretiza o lema de “dar a vida pela copiosa Redenção”. E, para nós, no Brasil e na América Latina, trata-se de assumir a proposta de sermos Discípulos- Missionários de Jesus Cristo, para a vida dos nossos povos, principalmente para a vida do pobre e do abandonado.